quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Grande como os maiores


O frio cortava numa certa noite em Matosinhos, mas Rui Patrício aqueceu ali as luvas para não mais as descalçar. No dia 24 de Novembro de 2007, há precisamente quatro anos, o camisola um do Sporting agarrava definitivamente a guarda das redes leoninas no empate a uma bola em casa do Leixões, em jogo de Liga, justificando, a custo e a pulso, a aposta de risco de Paulo Bento. De lá para cá, o Marrazes fez da juventude vinda da formação leonina a razão de ser da titularidade entres os postes do Sporting, "estirando-se" para a baliza de Portugal... que, aos 23 anos, também já é sua. Há quem não se espante.

Fernando Justino lembra o encontro com o miúdo tímido, mas ávido de defender que chegara a Alvalade vindo da região de Leiria. Mesmo na pequenez dos 12 anos, a pinta do miúdo alto e ágil não enganava os entendidos no ofício. "Ele veio parar à minha mão quando chegou à idade de iniciado", recorda o então técnico de guardiães nas categorias jovens verdes e brancas, das quais, de resto, é também ele próprio oriundo. Justino despertou para algo numa certa manhã. "Estava a vê-lo treinar-se e tive um 'feeling'. Bem trabalhado, aquele miúdo podia atingir um nível muito alto. Felizmente não me enganei; é o melhor guarda-redes português da actualidade, sem dúvida", sublinha.

Hoje a orientar os "keepers" da selecção grega sob a liderança de Fernando Santos, o homem que o engenheiro promoveu na Academia e, na sua equipa, levou para a Luz e para a Grécia ainda hoje defende que Patrício só pecou... por ter sido lançado às feras cedo de mais. "Ele ainda não tinha a maturidade suficiente", advoga Justino, que destaca a grande arma do Marrazes, aquela que separa as promessas das certezas, e o atenuar de um defeito em particular: "O Rui teve de assumir o posto depois dos problemas com Stojkovic. Abanou um pouco e isso foi notório, mas ele só foi capaz de superar a adversidade e justificar a aposta derivado à sua enorme força mental. É um aspecto fundamental e que o diferencia de outros guarda-redes que formei, nos quais via qualidades e que, por questões psicológicas, não conseguiram justificar o seu potencial. Rui Patrício melhorou, foi sempre evoluindo e melhorou bastante a comunicar com a defesa. Ele acanhava-se, mas hoje está mais solto, mais seguro até aí.

Dentro de campo, Patrício teve à sua direita um companheiro muito especial, daqueles que dizem o que pensam, sempre em prol do melhor de cada um, mesmo tendo-lhe cometido a desfeita de, num lance infeliz, fazer o autogolo que deu no golo leixonense. A reacção psicológica do guardião ao tribunal de Alvalade que muitas vezes lhe gritou sentenças foi, também para Abel, a chave que abriu a porta da afirmação: "Destaco a força mental do Rui. Fruto do seu trabalho, da sua capacidade, conquistou uma massa associativa exigente como a do Sporting. Foi uma aposta de Paulo Bento à qual os seus treinadores souberam dar continuidade, apesar da sua juventude. Hoje é um guarda-redes que passa confiança, chegou por mérito próprio à Selecção Nacional e é um jovem que sabe parar para ouvir, que tem uma vontade imensa de aprender e evoluir e ainda uma margem enorme de progressão pela frente."

A aventura tem quatro anos de vida e promete ainda estar na etapa inicial, assim Patrício continue a crescer.

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