O miúdo "bárbaro" renasce para ser grande referência
"É uma espécie de Sorín, tem esse estilo" - Ramón Maddoni não demora nem um
segundo para colocar um espelho à frente de Emiliano Insúa e desenhar um
paralelo para resumir as suas características. Apesar de pelos seus olhos terem
passado milhares de futebolistas juvenis que foram e são figuras por todo o
mundo, este homem recorda com luxos e detalhes cada um deles. É um dos maiores
fabricantes de jogadores argentinos, viu dar os primeiros passos não só de Nico
Gaitán, o jogador do Benfica, como também de Fernando Redondo, Carlos Tévez,
Esteban Cambiasso, Fabricio Coloccini e Fernando Gago, entre tantos outros. E
quando se lhe pergunta pelo agora jogador do Sporting, de imediato sorri e
gratas recordações brotam da sua memória: "Comecei a treiná-lo quando ele tinha
sete anos, no Club Parque, e depois levei-o para o Boca Juniors. Fizemos muitas
viagens juntos, torneios em Itália, França, Brasil... É um miúdo 'bárbaro', com
uma grande família. O seu pai, Alberto, ia com ele a todos os lados. Sempre foi
defesa, mas também pode jogar no meio-campo [onde já actuou pelo Sporting]
porque tem bom domínio de bola. Mas sempre vi nele a projecção para arrancar lá
de trás, por isso o colocava a jogar como lateral-esquerdo." E é também por lhe
ter feito vestir o número três nas costas que Maddoni compara Insúa com Sorín e
outros canhotos que também passaram pelas suas mãos: "Tem muita capacidade para
percorrer o flanco, como Sorín, que jogava a extremo-esquerdo, e eu é que o
recuei no terreno. Vem dessa linhagem de jogadores, tal como Julio Arca ou Diego
Placente."
Parque é um clube da capital Buenos Aires onde se joga futebol de escolinhas.
Insúa vivia no vizinho bairro Villa Urquiza e por isso o seu pai o levou a
pontapear a bola nesse histórico rinque de cimento. Aí cresceu, formou-se e deu
o salto para o Boca. "Tinham-no em alta consideração, de facto era sempre
chamado à selecção argentina. Surgiu-lhe a possibilidade de ir um período para o
Liverpool e aproveitou-a. Depois, o Boca fechou com o Liverpool a transferência
de Paletta e 'Emi' ficou definitivamente lá", recorda Maddoni, que reencontra
Insúa cada vez que o canhoto regressa de férias. "Com o pai, falo sempre por
telefone, porque também treinei Emanuel, o irmão. E Emiliano telefona-me quando
está cá e juntamo-nos", conta o homem que detectou no miúdo de sete anos
condições para chegar a profissional: "Notava-se que tinha outras qualidades.
Era um canhoto aplicado, muito atento ao que lhe pedíamos e atrevido para passar
ao ataque."
Físico, inteligência e critério do lateral campeão mundial
O futebolista que foi sendo preparado por Maddoni pouco pôde ser aproveitado
na Argentina, pela sua rápida mudança para o futebol inglês. Onde mais suco lhe
tiraram foi nas selecções juvenis. "O Emiliano era convocado desde que estava no
Boca, depois foi embora e continuámos a chamá-lo. É um lateral com muitas
condições: marcação, bom jogo aéreo e técnica com a bola", descreve Hugo
Tocalli, o treinador com o qual se abraçou há quatro anos, no Canadá, quando a
Argentina ganhou o Mundial sub-20. Nessa altura Insúa já era um jogador do
Liverpool, mas no seu país seguiam-no de perto. "Mantivemos o contacto e quando
voltava para o fim de ano ficava 20 ou 30 dias a treinar connosco. Ultimamente
tem havido poucos laterais na Argentina e não queríamos perdê-lo", lembra
Tocalli, que tinha o agora defesa do Sporting no plantel campeão em que também
estavam Di María, Kun Aguero e Mauro Zárate, entre outros.
"Não me surpreende que se tenha adaptado rapidamente à sua nova equipa porque
sempre foi muito inteligente e disponível. Nunca se queixou de ter ido embora de
casa tão jovem. Pelo contrário, estava muito contente, era uma evolução para
ele. Em criança já era um profissional, e nesse Mundial sub-20 jogou com menos
dois anos do que os restantes jogadores. Conseguiu-o porque um dos seus segredos
é estar fisicamente muito bem preparado, porque é a forma que tem de marcar a
diferença quando se junta ao ataque. Pela sua técnica tira bons cruzamentos.
Isso seguramente será bem aproveitado pelos avançados", adianta Tocalli, que
esclarece: "Nunca vai subir cem vezes por jogo ao ataque, tem critério e quando
vai é porque pode ser produtivo. Sabe que a sua função principal é a marcação e
não se descuida. É aguerrido, desses defesas que nunca dão por perdida uma
bola."
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