A medida dispensa tomadas de posição públicas, declarações ou comunicados: a reprovação não precisa de verbos. Face à aprovação pela Liga da zona de segurança criada pelo Benfica no Estádio da Luz estritamente para os adeptos do Sporting no dérbi do próximo sábado, com a delimitação por redes (duas laterais e uma frontal) da área reservada aos 3425 sócios com Gamebox que esgotaram a venda de bilhetes em Alvalade em quatro horas, a Direcção do Sporting decidiu abdicar dos lugares que lhe estavam destinados - ao abrigo dos regulamentos da Liga, como se pode ler nestas páginas - e juntar-se ao comum dos adeptos no espaço específico destinado aos apoiantes sportinguistas.
Certo é que o presidente do Sporting e da respectiva SAD, Luís Godinho Lopes, não marcará presença na Luz no dérbi de sábado - foi sujeito recentemente a uma intervenção cirúrgica. Apesar disso, chegou a ser equacionada a possibilidade de se deslocar ao estádio em circunstâncias normais, mas a a decisão da direcção em ir para junto dos adeptos afasta essa possibilidade. Assim, estará o Sporting representado por outros dirigentes, como o vice-presidente Paulo Pereira Cristóvão, que se sentará ao lado dos adeptos na "caixa de segurança" criada.
A decisão da Direcção leonina visa traduzir-se num acto de solidariedade para com o mais comum dos adeptos, transmitindo que não há sportinguistas de primeira e de segunda e sujeitando-se às condições particulares, e inéditas em Portugal, em que os apoiantes do clube visitante terão de assistir ao jogo do próximo sábado. Sem o dizer, a Direcção toma uma posição clara de crítica à "caixa de segurança" criada para o dérbi e associa-se aos adeptos que compraram bilhete e estarão rodeados de redes, em situação absolutamente distinta e diferenciada da dos restantes espectadores.
Este é, porém, mais um capítulo da história de um dérbi que, como todos, começou bem antes do apito inicial do árbitro. O Sporting, dadas as boas relações entre os clubes e atendendo mesmo aos antecedentes recentes - como uma das visitas do Benfica a Alvalade na época passada -, solicitou a atribuição de dez mil bilhetes, mas o Benfica só concedeu cerca de cinco por cento da capacidade do estádio a que estava obrigado, tendo esses 3425 ingressos disponíveis exclusivamente para sócios com Gamebox esgotado num ápice. A recusa de disponibilizar mais cinco mil bilhetes por parte dos encarnados foi recebida sem surpresa em Alvalade, ainda que, naturalmente, também sem agrado.
Seguiu-se a entrevista de Eusébio à revista "Única", do "Expresso", na qual, partindo do comentário do alegado caso de racismo entre Javi García e Alan no Braga-Benfica, o Pantera Negra passa para o pretenso racismo atribuído na sua juventude ao Sporting de Lourenço Marques - o que mereceu, inclusive, resposta de Hilário no jornal do clube leonino, como se pode ler nestas páginas.
A "caixa" foi, contudo, o factor determinante: os dirigentes vão com os adeptos para a "jaula".
Elevação traída por rede
Após uma entrevista de Eusébio à revista "Única", do "Expresso", em que era apontado o alegado carácter racista vigente no Sporting de Lourenço Marques, o que criou alguma tensão pré-dérbi, as declarações do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, na visita à Casa do clube na Malveira visavam serenar os ânimos antes da recepção ao eterno rival. Já o editorial do máximo representante dos leões, Luís Godinho Lopes, na edição do jornal "Sporting" ontem nas bancas apelava também à elevação, ainda que sustentada na diferenciação face à atitude adoptada pelo lado contrário. A zona de segurança criada para o Benfica-Sporting deste sábado acabou por ser, em última instância, o fosso que dividiu as duas Direcções no dérbi.
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