quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Antigo jogador desmente Eusébio


Braga Borges, antigo jogador do Sporting de Lourenço Marques, desmente declarações de Eusébio feitas na entrevista ao Expresso publicada no passado dia 12 na Revista Única         

Eusébio e as suas inverdades!

Não poderia, de forma alguma, ficar indiferente à entrevista concedida pelo Sr. Eusébio Ferreira à Revista Única de 12 de Novembro último, e justifico o que acima afirmo em poucas linhas.
Eusébio iniciou-se a jogar futebol federado em 1958, nos Júniores do Sporting Clube de Lourenço Marques (SCLM), onde jogava a interior esquerdo e eu a guarda-redes. Nascidos ambos em 1942 - ele a 25 de janeiro e eu a 25 de março - pertencíamos ao mesmo escalão, por isso sei do que falo. Quando diz que, com 16/17 anos, já jogava nos séniores do SCLM, porque não existiam escalões inferiores, isso não é verdade! E relembro-o que o seu, e meu, primeiro jogo oficial foi contra o Benfica de Lourenço Marques, onde vencemos por 2-0, no escalão júnior. A foto seguinte - relativa à época 1958/59 da equipa de juniores do Sporting de Lourenço Marques, tinha ele 16 anos - desmente-o.

Na época de 1960/61 é que ele sobe aos seniores, já então com 18 anos. E, ao contrário do que diz, o escalão júnior existia! E o tal jogo a que se referiu na entrevista à Única, em que marcou três golos ao Desportivo de Lourenço Marques, foi como sénior. Também não é verdade que tenha chorado quando marcou ao Desportivo. Tal como a restante equipa, festejou, isso sim! E, no jogo da final, marcou os dois golos com que o Sporting de Lourenço Marques derrotou o Ferroviário, cujo guarda-redes era Acúrcio Carrelo, ex FCP. Era um tempo em que não existiam rivalidades doentias, apenas as saudáveis rivalidades desportistas.
O que eu duvido que existam são os tais irmãos engenheiros. Como conheci relativamente bem a família dele, ele que diga onde se formaram os irmãos, uma vez que na altura Moçambique não tinha universidades. Eu acho graça aos "pobres de espírito" que - sem desprimor por ninguém - julgam que ser engenheiro é chegar ao topo do Mundo.
Diz também o Sr. Eusébio que o pai foi internacional por Moçambique. Como, se Moçambique era uma província - e não uma nação? Havia, isso sim, as seleções de Moçambique e a dos Naturais da Província. Ele que diga em qual delas jogou o pai. Em nenhuma - afirmo eu!
Para o fim, reservo a parte que para mim é mais importante, aquela em que afirma: "SPORTING, CLUBE ELITISTA E RACISTA"

Se éramos um clube elitista e racista, ele que explique então porque saíram do "seu" Desportivo, para jogar no Sporting, o Satar e o Merali, que eram indianos, e o Sérgio Albasini, que era mestiço.

Menciono apenas estes, mas havia mais jogadores que saíram de livre vontade, pois, como bem sabem, não existiam transferências à base de dinheiro. E, já agora, que diga também quem saiu do Sporting para o Desportivo. Eu não me recordo de nenhum - e os jogadores nada recebiam, o Sr. Eusébio era a exceção!
Clube racista, diz ele... O Sr. Eusébio é que fala em racismo. Será que se recorda? Eu avivo-lhe a memória: a dupla de centrais era composta por Satar (indiano) e Rangel (misto/chinês); o avançado centro, Maurício, era preto (para não falar do próprio Eusébio); havia ainda Morais Alves, Roberto da Mata, Madala, etc. etc. etc., todos de raças diferentes.
E porque o clube não era só futebol e integrava outras modalidades desportivas, entre as quais o basquetebol, relato aqui outro ponto que mostra bem o quanto éramos racistas.

Reis Pires, basquetebolista preto, natural da Guiné e radicado na então Metrópole Portuguesa, quando cumpria o serviço militar foi transferido para Moçambique, onde recomeçou a jogar basquetebol, no Desportivo de Lourenço Marques. Mas ao fim de algum tempo quis ir jogar para o Sporting de Lourenço Marques, o tal clube que segundo o Sr. Eusébio era racista.
Racismo no SCLM? Mais uma vez o desminto. Então e quando o Sporting era convidado a participar em torneios na África do Sul (na época do apartheid) e uma das exigências para a participação era a equipa não incluir atletas pretos, o que é que os dirigentes do Sporting faziam? Não ia ninguém, declinava os convites! E, ao contrário de outros clubes, o Sporting é que era um clube racista, segundo o Sr. Eusébio...
Rivalidades? Na época, as rivalidades eram tantas ou tão poucas que, quando o Benfica foi campeão europeu, a direção do Sporting de Lourenço Marques disponibilizou veículos automóveis para que todos nós, do Sporting, pudéssemos ir para as ruas de Lourenço Marques festejar o acontecimento, o que fizemos com muita alegria e muito orgulho. É este Sporting, um clube respeitado, que engloba dirigentes, formadores, atletas e adeptos, que o Sr. Eusébio tenta denegrir? É bom que as pessoas saibam a realidade dos factos e que o conhecemos não de agora, mas de outros tempos...
A maioria dos atletas que defenderam, nas diversas modalidades, a camisola do Sporting de Lourenço Marques, felizmente ainda estão vivos e são as melhores testemunhas do que eu aqui afirmo. Muito mais haveria para dizer, mas fico-me pelo essencial.
Porque será que o Sr. Eusébio instiga ao rancor? Será para justificar o que o Benfica lhe paga? O amor à camisola não justifica tudo! E é feio "cuspir no prato onde se comeu"... Esta é uma outra forma de se ser Judas. O Sr. Camilo Antunes, o Sr. Elísio Pereira e o Vigorosa já devem ter dado muitas voltas no túmulo com tamanha ingratidão.

É que, para ser respeitado, tem de respeitar! Mostrou-nos uma faceta que lhe desconhecíamos e que, a meu ver, fragiliza a sua figura como Embaixador do futebol português. Eusébio Ferreira foi um excelente jogador, hoje confunde e diz inverdades. Não tinha necessidade! Sabes que eu tenho razão, Eusébio.
Braga Borges (antigo jogador do Sporting Clube de Lourenço Marques)

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