sábado, 11 de fevereiro de 2012

Zé da Europa


Um dia, no verão de 1955, recebeu em casa telegrama inesperado: estava convocado para a seleção europeia que iria defrontar a Grã-Bretanha, em jogo comemorativo dos 75 anos da Federação Irlandesa de Futebol. Não acreditou na notícia e, mesmo quando se convenceu da sua veracidade, o primeiro instinto foi recusar, indiferente à maior distinção individual do futebol português até àquele momento.

Sob o argumento de que não estava em forma e podia dar barraca no meio de tantas estrelas, não queria ir. No meio de um turbilhão de emoções, foi a mulher, Maria Manuela, quem o convenceu a não desperdiçar a grande oportunidade. Começou então a treinar-se no Campo do Lumiar e na praia, onde recebeu, em tempo de férias, a visita de companheiros, ao princípio mais entusiasmados com a distinção do que ele próprio. Prova de que era um ídolo também para quem partilhava com ele o balneário, o jogo e o dia-a-dia.

Travassos foi para muitos o melhor jogador de sempre do futebol leonino. Velocíssimo, era mestre no uso dos dois pés: dele diziam os colegas que estes mais pareciam tabelas de bilhar, tal a precisão com que lhes entregava a bola. Mas Travassos fazia mais do que isso, pois a sua extraordinária visão de jogo permitia-lhe escolher quase sempre a melhor solução e colocar ao serviço da equipa o seu vasto manancial de recursos. Além da certeza no passe, tinha uma finta própria e um poder de remate invulgar. Formou, juntamente com Albano, Jesus Correia, Vasques e Peyroteo, os ‘Cinco Violinos’. Foi um futebolista fora do comum, daqueles que não oferecessem dúvidas quanto à sua grandeza.

Disputou 457 jogos de leão ao peito, nos quais marcou 172 golos. Recebeu, em 1986, o Prémio Stromp, na categoria ‘Saudade’. Deixou de jogar futebol a 7 de Setembro de 1958. Poderia ter sido um grande treinador, mas tinha pela caça uma paixão quase doentia e, a partir daí, nunca mais deixou de aproveitar os fins-de-semana para praticar a sua actividade preferida depois do futebol.

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